Começa um novo ano, mas para os moradores da Av. Governador
Valadares, a Reta, continua tudo igual. Ou seja, muita água suja e lama na rua,
invadindo também algumas casas e estabelecimentos de comércio locais, além de
obstruir temporariamente o tráfego de veículos pela rua que é o único acesso ao
município de São João Nepomuceno.
E o pior é que o problema não fica só na
Reta. A lama invade o parque de exposições e desce com a enxurrada pela Rua
Dona Miquelina, desembocando toda a sujeira na Rua Getúlio Vargas, a Rua Quinze,
invadindo casas, comércio e indústria causando grandes prejuízos.
Nada disso existia em tão grandes proporções até alguns
meses atrás. Nos dias de grandes temporais, víamos as águas descerem em grande
volume e escoando rapidamente ao primeiro sinal de diminuição ou do fim das
chuvas.
Mas o que então está motivando tudo isso?
Todos estes problemas e transtornos estão sendo causados por
um trabalho de terraplanagem da prefeitura na área da antiga extração de caulim
localizada no fim da Reta, quase em frente ao posto do PSF Nordeste. Segundo informações da
prefeitura, o projeto é construir casas populares na área.
O problema é que, seja por falta de planejamento ou erro na
elaboração da metodologia de trabalho, essa obra fez com que aumentasse assustadoramente
o volume do escoamento de água na região e o pior, trazendo muita lama e areia
de caulim. Já passamos por chuvas de tamanha intensidade, mas há muito tempo
não vivíamos tantos problemas como hoje.
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Este mar de lamas trouxe à tona também outra discussão: é apropriado construir casas em terrenos cujo solo é composto de caulim? É seguro desenvolver projetos de moradia popular em áreas já degradadas por mineração?
Uma verdadeira corredeira se formou na Rua Dona Miquelina desembocando tudo na Rua Quinze para o desespero de muitos moradores, comerciantes e empresários. |
Este mar de lamas trouxe à tona também outra discussão: é apropriado construir casas em terrenos cujo solo é composto de caulim? É seguro desenvolver projetos de moradia popular em áreas já degradadas por mineração?
Em minha participação na vida pública, seja como vereador de
2001 a 2004, seja como vice-prefeito de 2005 a 2008, tive a oportunidade de
vivenciar e discutir problemas parecidos envolvendo áreas impróprias para a construção
de moradias populares.
Ainda como vereador, no mandato 2001/2004, o prefeito à
época quis construir moradias populares no bairro Gilson Lamha. Tentei de todas
as formas mostrar a inviabilidade do projeto, pois pretendiam construir
as casas onde fora o lixão da cidade. Isso mesmo, onde se depositava todo o
lixo recolhido na cidade, a aproximadamente uns trinta anos atras!
Mas não teve jeito. A prefeitura insistiu na idéia e
deu no que deu. O projeto não foi aprovado.
No mandato 2005/2008, já como vice-prefeito, o prefeito - ainda
hoje em exercício após reeleição – cismou de construir casas populares no mesmo
local. Argumentava que o que faltava era um bom projeto de drenagem do local.
Mais uma vez, insisti na inviabilidade do projeto. Que nenhum órgão estadual ou
federal aprovaria a construção de moradias populares em cima de um antigo
lixão. Empacado como é, o prefeito não me ouviu!
Deu-se início às obras e logo se percebeu a dimensão do problema: a movimentação das máquinas e os constantes desaterros abalaram e comprometeram a estrutura de várias residências logo acima da área das obras, comprometendo também o galpão-sede da associação de moradores do bairro, tendo inclusive desabado sua cozinha. Este fato motivou na época um acordo da prefeitura com a associação de moradores, onde a prefeitura trocou dois lotes ao lado da Capela Nossa Senhora Aparecida pelo galpão-sede estruturalmente comprometido, através de permuta, comprometendo-se também em erguer um novo prédio para sede da associação. Lamentavelmente, a prefeitura não honrou este compromisso até o dia de hoje.
E deu no que deu... Mais uma vez, o projeto foi recusado. Não sem antes a prefeitura ter investido grande quantia de recursos em local não apropriado para tal construção. Neste caso, pelo menos, não foi de tudo perdido, já que no local foi construída a quadra esportiva do bairro.
Deu-se início às obras e logo se percebeu a dimensão do problema: a movimentação das máquinas e os constantes desaterros abalaram e comprometeram a estrutura de várias residências logo acima da área das obras, comprometendo também o galpão-sede da associação de moradores do bairro, tendo inclusive desabado sua cozinha. Este fato motivou na época um acordo da prefeitura com a associação de moradores, onde a prefeitura trocou dois lotes ao lado da Capela Nossa Senhora Aparecida pelo galpão-sede estruturalmente comprometido, através de permuta, comprometendo-se também em erguer um novo prédio para sede da associação. Lamentavelmente, a prefeitura não honrou este compromisso até o dia de hoje.
E deu no que deu... Mais uma vez, o projeto foi recusado. Não sem antes a prefeitura ter investido grande quantia de recursos em local não apropriado para tal construção. Neste caso, pelo menos, não foi de tudo perdido, já que no local foi construída a quadra esportiva do bairro.
Veio então a discussão sobre o loteamento da Cutieira e até
onde pude acompanhar, a prefeitura cortou um dobrado para convencer a COHAB a
liberar, sabe-se lá como, a construção. Todos se lembram que o projeto ficou no
sai-não-sai por muito tempo.
Agora surge um novo projeto: construir casas em uma antiga
área de mineração de caulim. Sou cético quanto à aprovação do mesmo. Mais cético
ainda quando vislumbro a real possibilidade de a prefeitura conseguir tal
liberação através de influências políticas, largando uma bomba de efeito
retardado nas mãos dos futuros compradores e de futuras administrações.
Mas
isso é outra questão!
Prezado Amarildo.
ResponderExcluirSábias palavras publicadas neste espaço. Como morador da Miquelina por mais de 15 anos, também já vivenciei grandes tempestades e o máximo que se via era um enorme volume de água, praticamente "limpa", mostrando que o ali escoava era apenas água pluvial.
Concordo com o exposto acima, exceto em um ponto: “é apropriado construir casas em terrenos cujo solo é composto de caulim?”
Como profissional de engenharia posso afirmar que realmente uma área composta basicamente de caulim não tem um solo com capacidade de suporte ideal para fundação para construção de qualquer tipo de estrutura, principalmente residências.
Porém, o ser humano tem inteligência e competência para estudar alternativas que possibilitam realizar enormes projetos de engenharia. Não se faz necessário exemplar projetos que comprovem o descrito, como edifícios que venceram as alturas em mais de 1.500m, barragens que geram energia capaz de abastecer um país como o Paraguai e 20% do Brasil e muitos outros já construídos no mundo.
Não estou querendo comparar obras faraônicas com a nossa pequenina cidade de Bicas, mas apenas abrir os olhos da administração pública. Um projeto bem estudado, embasado tecnicamente, com participação de pessoas quem realmente entendem do assunto, é capaz de atender, e até superar, o objetivo de qualquer empreendimento que tem apenas visão política.
A área em questão é a mais indicada para se construir casas populares em Bicas? Talvez não. Contudo, mesmo não tendo facilidades técnicas que viabilizam o empreendimento, é possível construir qualquer estrutura nesse local, desde que um bom estudo, que levaria a um excelente projeto, fosse estudado, e sem sombra de dúvidas viabilizaria um tecnicamente empreendimento no local sem prejudicar moradores da região. Engenharia pra isso existe, basta saber aplicá-la.
Seria viável economicamente? Talvez não. Mas é fato que, um bom projeto não iria gerar tantos transtornos como vivenciados nos últimos dias.
Quem sabe um dia, os responsáveis pela administração pública biquense, e vou mais além, brasileira, repensem suas ações e passam a executar empreendimentos, mesmo aquelas que têm apenas interesse político, com um bom estudo preliminar, visando o bem estar de todos os envolvidos.
Um abraço.
Bruno Vieira Ferreira
Engenheiro Civil