O retrato feito por Cândido Portinari tornou-se a capa do livro Histórias Ouvidas e Vividas. |
O dia 25 de setembro marcará o centenário do escritor, jornalista e
publicitário Emil Farhat. Nossa cidade, tão carente da preservação de sua
história, deveria comemorar neste dia a grandeza deste homem. Para os amigos
leitores que ainda não conhecem a história do grande escritor, “um menino que
chegou aqui analfabeto e descalço”, segue um
breve relato dos marcantes momentos da vida de Emil Farhat e de sua importância
para a história de nossa cidade, fatos trazidos ao meu conhecimento por seu
irmão e grande amigo Chicre.
Seus pais vieram do Oriente, Líbano, para o Maripá, Zona da Mata
Mineira, onde já 4 irmãos lá se encontravam. Viera buscá-los, atendendo ao
clamor de sua avó, saudosa, deprimida. Aguardava-os na Estação o
"Chichico" Azevedo, com três cavalos.
Dá para se imaginar como seria aquela “viagem” até a localidade. Sua mãe,16
anos, que nunca andara à cavalo várias vezes caíra do animal.
Exaustos, tarde da noite, avistaram o pequenino vilarejo, às escuras, sem luz elétrica.
Não demorou e estourou a 1ª Guerra Mundial,1914. Submarinos alemães infestavam os mares. A missão de seus pais fracassara.
E no vilarejo de Maripá seu pai suportou aquela aventura por sete anos até que um dia, 1921, arrumou as "trouxas" e veio parar em Bicas com a família incluindo o Emil, 7 anos, e as irmãs Sakina e Atica. Dessa vez, usaram o carro de boi, que se arrastou o dia inteiro.
Exaustos, tarde da noite, avistaram o pequenino vilarejo, às escuras, sem luz elétrica.
Não demorou e estourou a 1ª Guerra Mundial,1914. Submarinos alemães infestavam os mares. A missão de seus pais fracassara.
E no vilarejo de Maripá seu pai suportou aquela aventura por sete anos até que um dia, 1921, arrumou as "trouxas" e veio parar em Bicas com a família incluindo o Emil, 7 anos, e as irmãs Sakina e Atica. Dessa vez, usaram o carro de boi, que se arrastou o dia inteiro.
Logo seu pai abriu o
"Bar Memphis", que comprara, e colocou Emil no curso do professor
auto-didata João Cândido, que ensinava várias matérias.
Em 1928, Emil transferiu-se para o "Pio Americano", no Rio de Janeiro, então capital federal.
Em 1928, Emil transferiu-se para o "Pio Americano", no Rio de Janeiro, então capital federal.
Com a abertura da
estrada Juiz de Fora - Bicas, em 1930, matriculou-se no famoso Instituto Grambery
onde concluiu o ginásio em 1932, sendo considerado pelo Reitor Irineu Guimarães
o mais brilhante aluno de sua geração.
Voltou ao Rio em 1933 para cursar a Faculdade Nacional de Direito e trabalhar, aceitando qualquer coisa.
Voltou ao Rio em 1933 para cursar a Faculdade Nacional de Direito e trabalhar, aceitando qualquer coisa.
Insistentemente, ia às
redações do "Diário da Noite" e "O Jornal." Mas ninguém acreditava
no "foca" do interior.
Um dia, para "se
livrarem" de Emil, incumbiram-no de cobrir greves do funcionalismo e
ferroviários sem prestar-lhe maiores esclarecimentos.
Nada perguntou e disparou para os sindicatos. Entrevistou líderes grevistas e até patrões. Voltou tarde, e o secretário reagiu seco: -"Senta ai e escreve o que apurou. Deixa na minha mesa".
Nada perguntou e disparou para os sindicatos. Entrevistou líderes grevistas e até patrões. Voltou tarde, e o secretário reagiu seco: -"Senta ai e escreve o que apurou. Deixa na minha mesa".
Deu-lhe as costas,
apressado.
Não dormiu. Madrugou
nas bancas, esperando o jornal. O coração disparou. Sua matéria, na primeira
página.
Já no "Diário da
Noite", o secretário sorriu amarelo:
- Puxa vida, ninguém acreditava. Você arranjou o emprego de "repórter-auxiliar".
Ali ficou nove anos, chegando a redator-chefe. E iniciou também colaboração em outros jornais ("Diário de Notícias", "Correio da Manhã", "Diário Carioca" e revistas: "Diretrizes", "O Cruzeiro" e "Manchete") para aumentar a renda.
Em 1939, lança "CANGERÃO", considerado o melhor romance do ano, dois prêmios: "Lima Barreto" e "João Cordeiro". Mas a edição foi logo apreendida pelo Estado Novo, fascista, de Getúlio, além da ordem de prisão do autor.
- Puxa vida, ninguém acreditava. Você arranjou o emprego de "repórter-auxiliar".
Ali ficou nove anos, chegando a redator-chefe. E iniciou também colaboração em outros jornais ("Diário de Notícias", "Correio da Manhã", "Diário Carioca" e revistas: "Diretrizes", "O Cruzeiro" e "Manchete") para aumentar a renda.
Em 1939, lança "CANGERÃO", considerado o melhor romance do ano, dois prêmios: "Lima Barreto" e "João Cordeiro". Mas a edição foi logo apreendida pelo Estado Novo, fascista, de Getúlio, além da ordem de prisão do autor.
Refugiou-se numa
fazenda, em Sta. Helena e não bastasse, em 6 de setembro de 1940, aos 56 anos,
morria seu pai, deixando jovem viúva e oito irmãos menores, sem recursos. Com
26 anos, Emil ganhava pouco. Mas comprometeu-se a cuidar da família numa
comovente solidariedade, custeando os estudos de seu irmão Chicre Farhat até a
Faculdade.
Depressa, amigos se
movimentaram, ajudando-o na difícil responsabilidade. Arranjaram-lhe o cargo de
redator da Agência de Publicidade Mac Erikson - americana, filiais pelo mundo -
com melhor salário.
Desdobrou-se no
trabalho, ocupando diversas posições, atingindo à Presidência, até se
aposentar.
Roberto Marinho o
convidou para "Diretor Geral" de "O Globo", em São Paulo,
onde permaneceu dez anos.
Emil escreveu ainda
"OS HOMENS SÓS"; "CONTRATO COM AS ALMAS"; "EDUCAÇÃO, A
NOVA IDEOLOGIA"; "PAIS DOS COITADINHOS", sucesso absoluto no Brasil e no exterior, tendo vendido mais de 300 mil exemplares; "PARAISO DO VIRA BOSTA", "DINHEIRO NA
ESTRADA, UMA SAGA DE IMIGRANTES", vencedor do "JABUTI", o maior
prêmio literário do Brasil e finalmente, o livro de memórias "HISTÓRIAS
OUVIDAS E VIVIDAS", cuja capa é seu retrato feito por Portinari, o maior
pintor das Américas, e em suas páginas há o poema "A BRUXA", de
Carlos Drumond de Andrade, homenagem do maior poeta do Brasil. Editaram o livro
"O GLOBO", "MAC ERIKSON PUBLICIDADE" e a "ADVB",
pela exemplar carreira publicitária.
Obrigou-o a Mac Erickson, Agencia Internacional, a numerosas viagens ao exterior. Assim aprendeu cinco idiomas: inglês, francês, italiano, espanhol e árabe. Conheceu a Europa, Oriente Médio, países asiáticos, chegando ao Japão e China.
Obrigou-o a Mac Erickson, Agencia Internacional, a numerosas viagens ao exterior. Assim aprendeu cinco idiomas: inglês, francês, italiano, espanhol e árabe. Conheceu a Europa, Oriente Médio, países asiáticos, chegando ao Japão e China.
Amigo de Erico Veríssimo,
Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rubem Braga, Manuel Bandeira,
o consagrado dramaturgo Nelson Rodrigues e Dorival Caimi, que almoçou em sua
casa, em Bicas.
Maior contribuinte do
Instituto D. Selva, casa idealizada pelo amigo Irineu Guimarães para crianças
pobres, no Guarará.
Dispensando qualquer
honraria, veio dormir o último sono em Bicas, ao lado da filha, no túmulo que
mandou construir.
Generoso, pagando até a
planta, doou a principal parte do terreno para construção do Centro Cívico D.
Assima Farhat.
Lutou pela liberdade e
trazia sempre sua gente no coração.
Aquele menino pobre, de 7 anos, descalço, analfabeto, que não conhecia
luz elétrica nem médico, que andou de carro e boi, tornou-se cidadão do mundo, mas acima de tudo cidadão biquense!
Prezado Amarildo,
ResponderExcluirCom muito orgulho venho lhe agradecer pela lembrança do centenário desse grande homem EMIL FARHAT, meu tio e padrinho. Um grande abraço
William farhat
Li 'Cangerão'. Uma obra-prima.
ResponderExcluirEstou terminando de ler "O País dos coitadinhos' e quero ler toda a obra desse autor, estou apaixonada por esse enchadeiro da liberdade!
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