No ano de 2019 comemoramos os 140 anos
de nossa Estação Ferroviária com grandes eventos envolvendo todas as escolas
municipais, culminando com um maravilhoso desfile temático em 7 de setembro.
Na oportunidade muito se falou sobre o
Monumento ao Operário Biquense e especialmente sobre seu autor, o Mestre
Athayde, cuja história ainda é pouco conhecida. Era preciso resgatar esta bela
e importante parte de nossa história!
Contando com a valiosa e especial
contribuição dos arquivos do Jornal “O Município”; de Jorge Penido (in
memoriam), grande amigo de Athayde na juventude e da historiadora Rosália
Mayrink, foi possível conhecer um pouco mais sobre a vida e obra do Mestre
Athayde. Então... vamos a ela!
Artista biquense de coração com obras
reconhecidas e premiadas várias vezes em Juiz de Fora, Viçosa e outras cidades
da região, mas hoje pouco reconhecido em sua terra. Este era Athayde Raimundo Dutra de Moraes, ou “MESTRE ATHAYDE”.
Nascidos em Juiz de Fora, ainda criança
veio para Bicas acompanhado de seu irmão Honório, onde foi criado pela grande
alma Tia Rita.
Era um vanguardista, um dos artistas
mais genuínos de nossa terra. Artista plástico, gráfico, escritor e escultor,
nosso mestre tinha o realismo como sua marca.
Iniciou sua vida artística ainda jovem,
assim que seu irmão Honório retornou a Bicas “abastado” após servir o Exército
em Juiz de Fora, atuando por alguns anos no Canal do Suez.
Honório montou um Bar chamado “Egypt
Bar”, onde em suas paredes destacavam pinturas de cenários do Egito feitas por
ele e por Athayde, que acabou se tornando proprietário tempos depois. O bar foi
transformado em uma casa de eventos onde Athayde também expunha suas obras de
arte, local que acabou virando ponto de encontro dos artistas da região.
UMA
LIDERANÇA NO CAMPO BIQUENSE DAS ARTES
Destacando-se como grande artista
biquense, Athayde uniu-se a vários jovens entusiastas nos mais diferentes
campos das artes para criar o Núcleo Biquense de Arte, que ficava na Praça São
José, 105. A partir daí, buscaram apoio junto à prefeitura de Bicas para
realizar o 1º Salão Biquense de Artistas Amadores, que aconteceu de 21 a 28 de
julho de 1968.
O evento foi idealizado por Athayde R.
Dutra de Morais, por Amarilis Machado Pôssas Araújo e Walter José da Silva
contando com a destacada presença do professor de pintura João Sant’Ana T.
Neto, de Juiz de Fora atuando como presidente do júri.
I
FESTIVAL DE ARTE
Diante do grande sucesso do primeiro
evento, contando com o apoio da Prefeitura Municipal sob administração de
Gilson Lamha, o Núcleo Biquense de Arte realizou o I FESTIVAL DE ARTE, que
aconteceu de 19 a 27 de julho de 1969 tendo as seguintes modalidades
artísticas: pintura e desenho, poesia, declamação e redação, além de cantores
amadores.
As inscrições para o festival
aconteciam no Núcleo Biquense de Arte, então presidido por Athayde R. Dutra de
Morais, cujo vice-presidente era Walter José da Silva.
O festival foi organizado com extremo
bom gosto, apresentando a Bicas uma semana repleta de encantamento.
O grande evento foi dividido em duas
partes, uma acontecendo na Sede Social do Esporte e outra no Clube Biquense,
contando com comissões julgadoras compostas por conhecedores do ramo com
projeção em nossa cidade e em Juiz de Fora.
Os artistas vencedores receberam
premiações em dinheiro, troféus, medalhas e diplomas de participação. O
encerramento aconteceu na Sede Social do Esporte com a apresentação do concurso
de música popular brasileira com 15 finalistas, seguido de coquetel e entrega
de prêmios.
A diretoria do Núcleo era composta por
Athayde R. Dutra de Morais, Walter José da Silva, José Elgen G. da Cunha,
Milton B. Ferreira, Wanildo G. Siqueira, Jonas Jacob e Paulo Rossi, Jucerley G.
da Silva.
II
FESTIVAL DE ARTE
O I Festival de Artes de Bicas teve seu
encerramento marcado por um grande baile no Clube Biquense, na noite de 30 de
agosto.
Contando com o apoio da Prefeitura
Municipal, sob administração de Homero José de Mattos, aconteceu de 17 a 25 de
julho de 1971 o II FESTIVAL DE ARTE, com as seguintes modalidades artísticas:
pintura e desenho, poesia, declamação e redação, além de cantores amadores.
As inscrições para o festival
aconteciam no Núcleo Biquense de Arte.
O II Festival de Arte foi marcado pela
brilhante presença do compositor Gutemberg Guarabira como convidado de honra.
Neste período o Núcleo ainda era
presidido por Athayde R. Dutra de Morais, cujo vice-presidente era Walter José
da Silva.
SUA
VIDA
Mestre Athayde passou a realizar
exposições de suas obras, sendo premiadas várias vezes em Juiz de Fora, Viçosa
e outras cidades da região. Com sua verve, escreveu peças teatrais e enveredou
também pelo expressionismo, dadaísmo e cubismo.
Por ser autor de obras excêntricas e
contemporâneas, era chamado pelos amigos da “parte alta” da cidade como
“Pequeno Burguês”.
Em Bicas Athayde conheceu Teresinha,
com quem teve um filho, Athaydinho, morando hoje na Itália.
Athayde também tentou se enveredar pelo
campo político sem sucesso, sendo candidato a Vereador nas eleições de 1976
pelo MDB, mas não foi eleito.
Faleceu em 1979 quase no anonimato na
cidade de Juiz de Fora, onde foi enterrado. Talvez ele quisesse isso.
Um grande artista, um “biquense de
coração” que merece ser ainda mais estudado e apreciado.
Na antiga Estação Ferroviária está uma
de suas esculturas. Erigido em 01 de maio de 1969, inicialmente localizado no
canteiro entre a Estação e o Supermercado Santo Antônio, o “Monumento ao
Operário Biquense” é uma homenagem aos ferroviários de Bicas.
Por Amarildo Mayrink.